Por Vandré Fonseca (O eco jornalismo ambiental)
Sapinhos coloridos da Mata Atlântica cantam, mas não conseguem se ouvir. O coaxar dos machos é um risco, afinal predadores podem escutá-los, mas eles continuam a cantar, mesmo com a total indiferença das fêmeas aos sons. A conclusão é de um estudo que uniu brasileiros e europeus, para analisar a reação de duas espécies de Brachycephalus, B. ephippium e B. pitanga, a frequências sonoras que eles mesmos emitiam.
A conclusão veio graças a uma colaboração entre Universidade de Campinas (Unicamp/SP), Universidade do Sul da Dinamarca e Universidade de Lincoln, Reino Unido, e está em um artigo publicado esta semana no jornal Scientific Reports. Os autores dizem que o problema está no ouvido interno dos sapinhos, órgão que no caso deles não é capaz de identificar os sons.
O inútil e arriscado canto surpreendeu os pesquisadores. Afinal é muita energia desperdiçada. Pelo menos, eles acreditam que os sapos estão prontos para enfrentar eventuais predadores atraídos pelos sons. É que muitos desses anfíbios minúsculos e coloridos são altamente tóxicos, para azar daqueles que tentarem devorá-los.

Para os pesquisadores, a emissão de sons dessas espécies é um vestígio da evolução. Provavelmente continue a ocorrer como resultado secundário de uma expressão visual. De qualquer forma, é um caso único no mundo animal, em que a emissão de sinal de comunicação persiste, apesar da audiência ter perdido a habilidade de ouvir.
“Essas espécies cantam por nada”, afirma Fernando Montealegre-Z, líder do Laboratório de Bioacústica e Biologia Sensorial da Universidade de Lincoln. “ É um comportamento padrão, após a perda de audição. Eles podem estar em um estágio da evolução no sentido da perda completa da comunicação acústica, onde o sistema auditivo foi perdido, mas os sinais vocais ainda ocorrem”, completa.
Esses sapinhos não têm orelhas. Para saber como reagiam aos sons, eles foram submetidos a um microscanner a laser, capaz de detectar vibrações e identificar possíveis áreas que vibrassem na mesma frequência das emissões feitas pelos machos. Apesar das vibrações serem detectadas nos pulmões, registros neurais demonstram que os sapos estudados não eram capazes e ouvir esses sons.
Saiba Mais
Artigo: Evidence of auditory insensitivity to vocalisation frequencies in two frogs.
Fonte: oeco.org.br